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4 de abril de 2012

Estado precário da Estação Pirajá leva rodoviários a ameaçar bloqueio como protesto


/ Crédito: Rafael Martins

Para 160 mil passageiros que todos os dias passam pela Estação Pirajá, quatro fedidas cabines de sanitário. Para os comerciantes que pagam taxa de condomínio para trabalhar no local, disposição para limpar as fezes e urina que encontram em suas barracas pela manhã. Para os cerca de 1,2 mil rodoviários que todos os dias dependem do apoio da estação, improviso. Para quem precisa pisar no local após as 22h, muita coragem.
O estado precário da Estação Pirajá, a segunda maior da capital em número de passageiros, é unânime tanto para quem trabalha como para quem a utiliza. “Raramente você vê policiamento aqui. Fica das 18h às 21h30 e depois fica entregue aos ambulantes e aos usuários de drogas”, reclama o gestor substituto do equipamento público, Hélio Barbosa do Santos, funcionário da Transalvador.
Por conta dos problemas, os rodoviários ameaçam, a partir de segunda-feira,  não entrar na estação em protesto. Segundo Cléber Maia, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, no banheiro reservado aos motoristas e cobradores faltam pias e descargas. Uma limpeza foi feita ontem, após o sindicato anunciar o protesto.
“Isso aí só lavam uma vez no ano. Fica tão nojento, que os rodoviários não têm coragem de entrar e fazem nos pneus, aí fica com esse fedor. Eu já vi colega saindo de dentro do matagal porque era melhor que ir ao banheiro”, relatou o fiscal Daniel Rodrigues dos Santos, 30. Como o único bebedouro está quebrado, os rodoviários dependem de uma torneira para matar a sede.
O Sindicato dos rodoviários chegou a marcar o protesto para manhã de hoje,  mas por causa do Feriado da Semana Santa decidiu adiar para a próxima segunda. Ainda assim, a Transalvador divulgou nota, na qual afirma que, com o apoio da Polícia Militar, impedirá que o acesso dos ônibus a estação seja bloqueado.
“Para garantir o direito de ir e vir das pessoas, a Transalvador manteve  contato com o gabinete do Coronel Alfredo Braga de Castro, comandante geral da Polícia Militar, e pediu ação da segurança pública no local”, afirma a nota.
Reclamações
Mas não são só os rodoviários e passageiros que sofrem com a falta de  estrutura da estação. Ambulantes que pagam R$ 280 por mês para manter suas barracas também reclamam da falta de higiene dos usuários de drogas, que por vezes até defecam nas áreas reservadas aos comerciantes. “A gente chega aqui de manhã e vê tudo sujo. Ou limpa ou não trabalha”, diz uma vendedora de bombons, que  não quis se identificar.
O grupo de usuários de drogas, formado em sua maioria por adolescentes e crianças,  pratica furtos aos passageiros que tem de chegar mais tarde em casa. “Eles entram no ônibus já com a pistola na cintura e pouco depois que o carro sai da estação eles dão a voz”.
O cobrador Ricardo Santos Alves, 33 anos, que já teve a arma apontada em sua cabeça por três vezes. “Roubo a ônibus é normal, todo fim de semana, por exemplo, a linha para Itapuã é assaltada”, completa Hélio Barbosa.
Até a própria administração da estação e o posto avançado do Grupo Especial de Repressão ao Roubo em Coletivos (Gerrc) já foram alvo dos usuários de drogas que dormem no local. No mês passado, além dos dois locais, também foram arrombadas uma financeira e uma farmácia. Computadores, pertences pessoais e materiais de escritório foram roubados.
Rondas
A Polícia Militar, por meio de sua assessoria, afirma manter durante o dia três policiais da 48ª Companhia Independente (Sussuarana) em rondas a pé, além de um ponto base de viatura dentro da estação, onde ficam as radiopatrulhas que passam pelo local periodicamente. Ainda segundo a PM, a partir das 22h há apenas o policiamento móvel.
A equipe do jornal CORREIO esteve na estação ontem durante quatro horas e não encontrou policiais militares em rondas a pé. Apenas às 18h dois PMs chegaram em uma radiopatrulha e admitiram não ter capacidade de dar conta do policiamento no local.
“Quando muito, há três viaturas para cobrir uma área de seis bairros. Não dá, não é? Na hora de pico a gente fica aqui, mas depois temos que sair”, admitiu um dos policiais, sem querer se identificar.
Mau cheiro e degradação
Quem precisa usar os sanitários da Estação Pirajá sofre com a falta de estrutura. Ao todo, são quatro sanitários, mas apenas dois  têm condições mínimas de serem usados e ficam abertos das 5h às 19h30. Eles são limpos, mas ainda assim é difícil manter-se respirando dentro do ambiente. “É prender a respiração, entrar e sair correndo. Não tem dignidade alguma.”, diz o marceneiro Alexandre Chagas, 38.
No outro turno, ficam abertos os outros dois sanitários, em total estado de degradação, em que faltam lâmpadas, torneiras, vasos e grande faxina. “Se a gente deixasse abertos os que ainda prestam, não ia sobrar pia, não ia sobrar nada, os usuários de drogas levam tudo”, explicou Hélio Barbosa, gestor da estação.


http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-3/artigo/estado-precario-da-estacao-piraja-leva-rodoviarios-a-ameacar-bloqueio-como-protesto/

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