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20 de abril de 2010
Tuberculose: Uma questão de Justiça Social?
Sou membro do Fórum e Comitê de Combate a Tuberculose na Bahia, e representante do Conselho de Saúde do Distrito de Brotas em Salvador. Nos últimos anos tenho refletido sobre a ação e os projetos que estamos desenvolvendo na Bahia para combater a HIV/AIDS e Tuberculose ou os que estão sendo desenvolvidos por mecanismos nacionais ou internacionais.
E com esse tempo de reflexão pudemos chegar à conclusão de que precisamos modificar a lógica dos financiamentos e priorização desses recursos para que de fato possa chegar a quem realmente precisa. Não podemos levar em conta só os índices estatísticos do falso desenvolvimento e crescimento com desigualdade sócio-racial.
Precisamos encarar e assumir que a tuberculose, embora tenha cura, padece com a falta de assistência e a burocracia. As dificuldades no acesso ao serviço e assistência vêm assassinando as pessoas. Temos um hospital de referência que não tem capacidade de assumir toda demanda e que tem assumido o papel geral de fazer o serviço que era para ser de responsabilidade da rede de atenção básica.
Em Salvador a rede de atenção básica no que diz respeito à tuberculose é uma verdadeira mentira; O que deveria ser a primeira opção no caso do levantamento do diagnóstico e iniciação para o tratamento, sofre hoje com a falta de capacidade do cumprimento do seu papel. Temos coordenações estadual e municipal com baixas influências nas decisões estratégicas e financeiras das gestões.
É fundamental que se encare o HIV-AIDS e a tuberculose como uma estratégia transversal e que de fato esteja inserida no programa de governo como uma política de estado e não como um favor de quem esta governando ou gestando.
Tenho deparado com casos de pessoas que têm dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento e, sendo assim, desiste da continuidade do tratamento por conta dos obstáculos tais como, por exemplo, a falta de acesso a alimentação diária. Alguém acredita que R$24,00 mensal é suficiente para alimentar uma pessoa com qualidade?
Os moradores de rua, como Jorge Henrique Bahia, que fica debaixo da marquise da sofisticada loja VELMOND, Rua do Tira Chapéu, 2, esquina com a Rua Chile, que tem o diagnóstico soropositivo, já abandonou o tratamento várias vezes. Por ironia ele está ao lado do Poderes Executivo e Legislativo de Salvador. Uma vergonha para a nossa sociedade!
Considero o investimento feito na formação de profissionais muito importante, mas precisamos investir mais e urgentemente na prevenção e da melhoria da qualidade de vida das pessoas já que é uma doença ligada aos determinantes sociais.
Torna-se necessário refletir sobre a realização de inúmeros eventos onde o público é sempre formado pelas mesmas pessoas, onde a não inclusão de novos atores que sem dúvidas permitiriam a ampliação da nossa luta e o fortalecimento de nossas ações.
É preciso que haja a renovação dos espaços, que seja quebrada a lógica dos ungidos, iluminados que criteriosamente escolhidos por aqueles que têm pouco compromisso com o firme combate à tuberculose no Brasil.
Precisamos de fato fazer valer o pouco recurso e utilizá-lo de forma transparente e inclusiva na base de sustentação. Não temos só que discutir a saúde e a situação da população de rua. Precisamos inseri-los na discussão, pois quem tem a dor é que a sente e a sofre.
Para combater a tuberculose e HIV/AIDS é preciso lutar por justiça social!
*Marcos Antonio Sampaio - marcosfidel@bol.com.br - osgemeosdebrotas@gmail.com.br - Tel.: (71) 9907-7773 e 3382-2655
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